sábado, 21 de novembro de 2009

A Ligação.




Foi num dia qualquer, de uma noite quente e abafada em algum mês desse ano. Como em todos os outros dias assim, chegava da aula, corria para o meu quarto e lá, ia despindo-me lentamente enquanto olhava fotos ou cantarolava uma música qualquer. Era como se fosse um ritual do meu eu comigo mesma. A ausência de espelhos era um mero detalhe, pois sabia exatamente o que estava no lugar e o que precisava melhorar em meu jovem corpo porem, nesse dia, acrescentaria algo a mais para finalizar minha tão monótona rotina.

Sentada no chão, olhei as horas e abri um afável sorriso. Era sim, o momento para ligar para aquele que nos últimos anos perturbava os meus sonhos mais secretos. Disquei os dez números- os quais estavam gravados em minha mente, e fiquei ansiosa a espera de sua voz. Quando a mesma chegou aos meus ouvidos, pude enfim livrar-me da contração muscular que fazia com que apertasse meus dedos.

A conversa começou leve como se ambos estivessem em um terreno perigoso o que de fato era verdade. Perguntamos amenidades e elas, nos conduziram a outras coisas, como revelações cotidianas. Naquele instante criamos confiança, a mesma que foi perdida anos antes, seja lá qual tenha sido o real motivo.
Num dado momento mergulhamos, dessa vez sem medo, nos segredos e nas vontades obscuras e em sua fala ofegante, senti a sintonia daquele telefonema. A imaginação começou a fluir avassaladoramente, com viagens alucinantes para o eu de cada um. Se eu estava só, e ele também, essa solidão se transformou em companhia das mais agradáveis e instigantes.

Depois de quase duas horas de papo, desligar o celular foi doloroso. O certo é que cada um iria dormir imaginando a concretização dos planos feitos e do quão breve eles iriam ser posto em prática. Do mesmo modo que ele invadiu minha rotina monótona, dali a alguns dias invadiria o meu corpo, a minha alma e o meu coração. E eu não conseguia mais nem sequer viver, a espera dessa entrega cheia de dúvidas e medos, mas uma entrega que seria minha e por inteiro fazendo então com fosse meu e o mundo não tivesse a mínima importância.

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