sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carta de uma jovem brasiliense.



Eu, estudante, de 22 anos, nascida e criada em Brasília, ando indignada com o que ouço, vejo e leio por aí. Todos sabem da onda de corrupção que atingiu a vigésima oitava estrelinha da bandeira da Republica Federativa do Brasil porem, o que anda me deixando triste não é a corrupção em si, mas as generalizações.

Quem nasceu no Distrito Federal, sempre conviveu com piadinhas, que iam desde a gozação com a maquina publica até a satirizarão com os monumentos, passando por denominações impróprias aos que aqui nasceram, residem e construíram. Sim, pois brasiliense é uma coisa, candango, é outra e calango, é um animal.

Não sou filha de ninguém. Não tenho parentes na política. Não possuo QI em nenhum órgão publico. Nunca almocei com o Presidente, como também não recebi pane tone no Natal. Meu sangue não é azul. É vermelho, da cor do barro do Planalto Central. Sou filha de carioca com nordestina e confesso muito mais nordestina do que carioca. Ostento com orgulho minha cabeça chata, minha testa grande, meu olho vivo e no meu almoço não pode faltar farinha. Minha família, como muitas residentes no Distrito Federal, veio de baixo e se hoje podem morar nessa Ilha da fantasia é porque por aqui muito ralaram, sem peixada, no maximo, com uma peixeira.

Vivo bem é fato. Desconheço a palavra trabalho duro, mas reconheço com amor aqueles que deram suas vidas por essa Terra e que hoje, são tachados de bandidos. Bandido de verdade usa terno, gravata, trabalha duas vezes por semana, ganha o que oitenta por cento da população jamais vai ganhar, desfila de carro preto com motorista, recolhe imposto até de feirante, mora na Península dos Ministros, em Águas Claras ou na Granja do Torto. Bandido aqui, em sua grande maioria não nasceu aqui. Veio para cá por força maior, ou seja, tiveram escolha e eu não. EU fui parida no Cerrado e como filha de um pedaço sem leis, as exijo para ontem.

Já levantei muita bandeira. Já participei de inúmeras passeatas, dormi em barraca durante infindas noites nos mais diversos congressos do Movimento Estudantil. Lutei pela queda da DRU e pelo aumento do PIB para a Educação. Já passei frio e fome mesmo sem precisar e tudo isso porque ainda acredito no meu País. Se precisar, pinto a cara, amarro a minha bandeira verde e amarela nas costas e saio em rumo a Praça dos Três Poderes pedindo justiça aos injustos, independente de ser de esquerda como sou, o meu maior lado é contra a bandalheira, contra ao mensalão.

Peço então que além de prenderem as laranjas podres, respeitem o Povo Brasiliense. Não julguem o todo. Julguem as partes. Não generalizem os honestos, os probos, os justos. Falar que TODO Brasiliense é ladrão, é a mesma coisa que dizer que todo nordestino é pobre, que todo paulista é barrista, que no Norte só tem índio e no Sul, só galego. Ofender o brasiliense é ofender o Brasil, pois aqui, encontram-se todos os povos, raças e culturas, reunidas há quase cinqüenta anos.

Um comentário:

Sandryne disse...

Nossa, amei tua carta. Tenho amigos brasilienses e tenho que admitir: além de tais descrições do teu texto, havia mais uma em minha mente insana, se o jovem brasiliense não fosse do rock ou do reggae, era playboy. Mas é só o que você disse mesmo, lindamente. Abraço de uma nordestina.