quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Patinho feio.




Durante muitos anos foi assim. Eu olhava-me no espelho e não conseguia reconhecer nenhuma qualidade. O cabelo era sem graça e sem vida, as roupas, um tanto quanto largas, os sapatos, totalmente fora de moda, tendo em vista um pé muito grande para a minha altura, o rosto cheio de espinhas e para completar a tragédia grega instalada, os óculos que desde muito nova se fez presentes nos meus dias.

Sonhar com namoros. E nada ia muito além de poucos bilhetes trocados escondidos no recreio da escola e ainda por cima, com o garoto mais sem graça e sem sal da turminha de amigos. Olhava para as outras garotas e imaginava-me igual às elas, com os cabelos longos, lisos, bem penteados, aquele perfume que chamava a atenção. Sonho de uma garota que era considerada a ruim nos esportes, que sempre ficava por ultimo na escolha dos times na aula de Educação Física e que passava os intervalos comentando do seu fracasso em matemática, porém, era elogiada pelos belos textos e pelo poder de apresentar seminários em publico, como se ninguém estivesse presente. Era a dona da verdade, mas de minha própria verdade.

Os anos foram passando. Os primeiros amores começaram a surgir e com eles a vontade, a doce vontade de se arrumar, de se descobrir menina e mulher ao mesmo tempo, mas nem tudo seria flores, tendo em vista a enorme comissão de frente que eu carregava e que era motivo de gozações, que com o tempo começaram a ser levadas numa boa, sem estresse, mas que mesmo assim ainda fazia com que eu me escondesse e tivesse vergonha de andar com blusas decotadas, vestidos de alcinhas, roupinhas justas e claro, de colocar um biquíni para ir a um clube.

A guerra com a balança também era motivo de preocupação. Bastava uma extrapolada no fim de semana e pronto. O jeito era viver em nutricionistas, academias e formulas emagrecedoras rápidas. Enquanto as minhas amigas devoravam, sem culpa uma caixa de chocolate inteira, no meu caso, um simples bombom já era sinal de uma inflada na barriga e de mais uma espinha para a minha coleção.

Veio o peso bacana e acompanhado dele a tão sonhada e temida plástica. Prazeres que não tinha como, por exemplo, passar à tarde no shopping fazendo compras ou comprar um lingerie, começaram a entrar na minha rotina. Era enfim, a tão sonhada fase de me descobrir como mulher, de admirar os meus traços, de aceitar o meu cabelo e de fazer dos meus óculos um aliado ao novo estilo que começa a aflorar. Era o despertar da sensualidade, que muitas vezes foi esquecida, tanto em um canto do armário quanto nos braços alheios e no fim, no fim mesmo, a dança de salão completou toda essa transformação.

Tem dias que ainda me acho um patinho feio, que olho no espelho e fico indgnada com os pneuzinhos que teimam em não sumir, porém, quando isso ocorre, corro e vejo no calendário que nada mais é que a fase de TPM. Aí então, dou risada, relaxo e me entrego aos meus hormônios, pois o prazer de me sentir linda, sensual, desejada, admirada vêm dos céus e da vontade de fazer com que a cada dia desapareçam os traços de criança e deixe as marcas dos meus vinte e um anos se fazerem vivas. Marcas essas, descobertas após uma transformação de dentro pra fora.

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