segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A garota da calça rosa



Todo sábado era a mesma coisa: saía de casa as 14 horas rumo a igreja perto de casa. A missão daquela tarde era cuidar de mais de vinte crianças e passa-las os ensinamentos de Jesus e as bases que todo bom cristão deve ter. Sempre a mesma blusa, e a mesma calça. Uma calça rosa, pescador, daquelas que terminam na altura do tornozelo, de malha bem soltinha, pra esconder os quilos extras que teimavam em aparecer na adolescência e também para transmitir uma ar de seriedade, missão praticamente impossível, se fosse levado em conta as espinhas na cara, o cabelo amarrado em um rabo de cavalo alto e o doce olhar de menina. Coisas típicas de quem tinha 13 anos.

Saindo da igreja, era hora de encontrar com os amigos na quadra ao lado da onde residia. Ali, viu desabrochar os primeiros amores, o primeiro fora levado, as primeira confissões com as amigas. Viu também a alegria das festinhas, o lanche tomado no cachorro quente próximo, as brincadeiras de verdade ou consequência, os telefonemas dados no orelhão perto da quadra de esportes para aquele, aquele gatinho que nunca teve coragem para se declarar. Observou os meninos jogando bola á tarde inteira pra em seguida, como forma de provocação, virem abraçar as meninas, fazendo com que elas saíssem correndo de tanto nojo daquelas camisas molhadas e daqueles ténis encardidos, para mais a noite, se encantarem com o mesmo garoto porém, dessa vez limpinho e perfumado.

Sempre quando chegava, a piadinha vinha: lá vem a garota da calça rosa. Algumas vezes pensava até em troca-la,mas pra que? Afinal, aquela era a sua marca registrada e todos a conheciam assim. Na verdade, essa calça rosa,transmitia um pouco do que a garota era, espontânea, brincalhona e de bem com a vida. Simplesmente uma adolescente,que tinha desejo de viver cada segundo pois sabia que ele iria acabar, como acabou. Foi com essa mesma calça, que sentiu seu coração bater mais forte por um menino super popular, daqueles que 8 entre 10 garotas olhavam e suspiravam e foi com essa calça, que mesmo colocando outra blusa, fazendo maquiagem, soltando o cabelo e tirando os óculos,ele nunca a olhava com outros olhos, jamais chegou a falar que ela era linda, como fez como outras meninas, magrinhas, loirinhas, com olhinhos claros e claro, sem espinhas. E a garota, continuava lá, sábado após sábado, sem ter ao menos a chance de ser paquerada. Mas tudo bem, ela era considerada super gente boa por toda a turma e isso era o mais importante.

Com o tempo, a calça rosa foi deixada de lado. A rotina na igreja continuava mas a garota estava descobrindo a magia do se arrumar, do ficar bonita e chique, do valorizar as suas formas, por mais gordinha que estivesse. No armário novo, começou a entrar jeans justinho, salto alto, batinhas soltas, brincos grandes e claro, magia. A primeira vez que apareceu em um sábado sem a famosa calça rosa pescador, todos estranharam porém, perceberam que tinha algo diferente. A garota estava crescendo e começando a se libertar. Era um novo começo, que se resumia também ao afastamento de muitos da turma, tanto pelo estudos, quanto por mudança de cidade.
A vários anos que ela nem se lembrava mais que um dia tinha usado uma roupa tão brega e tão cafona mas numa conversa com um dos meninos que jogavam futebol naquela época, o mesmo fez questão de lembrar desse ´´pequeno detalhe´´ mas que no fundo fez a diferença no início da sua adolescência. E hoje a garota da calça rosa, usa um jaleco branco, com seu nome gravado em verde, pra mostrar pra quem quiser vê que ela cresceu e se tornou uma linda e dedicada mulher e estudante da aréa da saúde.

Um comentário:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkk Adoorei!! Nessa época a gent nem se conhecia, né? Amiga vc ainda tem essa calça guardada???